Onde andas tu, ó coreto, cúmplice de tantos fatos e segredos. Deitado em berço esplêndido - não diria eternamente, pois não estás mais onde te deixaram. Vivias a reverenciar o patrono da cidade. Quem sabe conversavam coisas da cidade...
Coreto curioso, observastes por anos a fio os jovens casais a se beijar sob a cumplicidade das árvores. Ouvistes, talvez enjoado, o canto dos pássaros, despercebido do tempo que corria lentamente. Vistes passar os "desfiles de sete de setembro", as procissões, a vida pacata e simples de teus conterrâneos.
Reconheço nesta fotografia Adonel (ao microfone), Ezequiel Salvat, Júlinho e Augusto Pires. A menina, abaixo (bem na posição da palavra "somos"), é Selda. |
Escutastes a fala do MDB, depois da ARENA. Ouvistes Adonel, Ênio Martins, Diva Câmara, Julinho, dona Kimie, Leidima... Todos queriam a tua companhia silenciosa. Eras o "parlatório" da cidade.
Outrora contemplastes, impávido, o fogo simbólico, cuja chama ardente, tão ardente como o respeito dos alunos e professores, emanava o seu civismo.
Escutastes tantos hinos, cânticos católicos, louvores, músicas românticas oferecidas aos enamorados. Era o tempo das bocas de ferro. O povo sempre estava atento ao teu "parlatório".
Escutastes tantos hinos, cânticos católicos, louvores, músicas românticas oferecidas aos enamorados. Era o tempo das bocas de ferro. O povo sempre estava atento ao teu "parlatório".
Escutastes os anúncios de morte, sob o toque do "Il Silenzio", de Nini Rosso. Ouvistes os comunicados de utilidade pública...
Atravessastes as madrugadas frias, ouvindo os jovens barulhentos em incontáveis "Corpus Christi".
Fotografia de 1979, registrando um detalhe dos tradicionais tapetes de Corpus Christi, exatamente na parte que liga ao coreto. |
Vistes os meninos que subiam em sua mureta, contemplando a vida bucólica e deliciosa de uma época em que eram felizes e não sabiam.
Coreto, coreto bondoso, sereno... hospitaleiro da pluralidade. Recebestes a todos sem distinção. Talvez por isso não servistes. Fostes bom demais. Dizem que "ser bom demais não presta"...
Berto Borges (filho de Bertoldo Borges da Silva e d. Júlia Borges), passeando pelo coreto (Arquivo: S. Oliveira) |
Família Spíndola |
Esse coreto fez parte da minha vida, assim como esse bancos da praça, apesar de morar fora de Bataguassu sempre vínhamos pra cá, por conta do meu avô e tia Aparecida que moravam aqui. E brincávamos nessa praça e nesse coreto.
ResponderExcluirLiege, obrigado por suas reflexões. Você possui alguma foto da Bataguassu de sua época? Conhece algo que possa me ajudar a construir um texto? Essa página é para se contar as histórias que não estão na história. Quem eram exatamente os seus avós?
ExcluirNossa q lindo recordar
ResponderExcluirBrinquei muito nesse coreto
Muito lindo o texto Parabens
Obrigado, Jucy. Eu também brinquei muito ali. Que pena que impediram aos nossos netos a mesma experiência. Experiência de ter uma identidade histórica.
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