Ênio Barbosa Martins, L.C.F. e Diva Câmara Martis (Câmara Municipal de Batatguassu à ocasião da inauguração da Prefeitura Municipal) |
Diz
o imaginário popular que "por trás de um grande homem existe
sempre uma grande mulher". Eu não acho. Considero meio
esquisito sentenciar que deve ser "por trás de um grande homem".
Por
que a mulher deveria estar "por trás do homem" se ela pode
estar ao lado?
Diva
Câmara Martins é exemplo claro de uma grande mulher ao lado de um grande
homem. Talvez nem todos pensem igual a mim, mas entendo que, mesmo
com toda a dignidade de Ênio Martins - o primeiro prefeito oficial
de Bataguassu - sua esposa teve uma história superior e mais
marcante.
Enquanto
ele foi gestor do município por alguns mandatos - e depois da vida
pública tornou-se um cidadão comum - ela foi referência
durante quase quase a vida toda. A história dela perpassou décadas de forma viva e pública, enquanto a do marido parou num determinado ponto.
Quando
falamos de Ênio Martins, falamos do ex-prefeito, mas quando falamos
de Diva Câmara Martins, falamos da professora. Só isso basta. E
Diva era mais. Podemos enquadrá-la no rol dos educadores por
excelência.
Enquanto escrivã, tabeliã e datilógrafa, se destacava pela fluência com que fazia as coisas acontecer.
Enquanto escrivã, tabeliã e datilógrafa, se destacava pela fluência com que fazia as coisas acontecer.
Em
seu lar, era espontaneamente uma bibliotecária. Possuía uma estante
imensa com variados temas. Desde os clássicos da literatura
brasileira e estrangeira aos assuntos mais avançados. Leitora voraz,
possuía o raro dom da generosidade intelectual. Quem a procurasse
com o objetivo de tomar-lhe emprestado algum livro, obteria êxito.
Sua
casa era "centro de peregrinação" de pessoas curiosas,
ávidas pelo conhecimento, pois era a historiadora de Bataguassu. Como
pioneira deixou registros e acervos pictóricos
preciosos. Tinha verve de escritora, deixando poemas e textos sobre os primórdios de Bataguassu, além de autora do hino ao município, dentre outros poemas.
Quando
alguém não sabia um assunto, procurava nela a luz. Mesmo humana,
ela era luz. Luz de hospitalidade, respeito e ensinamento a quem quer
que fosse.
Enquanto
primeira-dama, se desdobrava, abnegada, em prol de fazer o milagre
dos cobertores, do alimento e das roupinhas infantis para aquecer as crianças desfavorecidas. Fazia parte de diversos órgãos ligados à filantropia e possuía uma liderança inata.
Como
gestora escolar, inspirou a muitos pelos modos metódicos,
organização e capacidade de transformar o pouco em muito.
Fazia
jus às palavras de Paulo Freire, quando ele diz que "nosso
discurso deve estar em conformidade com a nossa prática" muito
antes de sua obra ser tão divulgada. Educava mais pelo exemplo que
pelas palavras, mas quando falava, tornava o horizonte do
conhecimento mais amplo, e instigava novas descobertas.
Numa
época que a datilografia era o "sonho impossível" de
muitas moças bataguassuenses, haja vista significar um recurso
didático/profissional avançado e caro - tal qual o computador há
duas décadas - ela abria a sua casa e seu escritório para dar
oportunidade a quem a procurasse. E as ensinava como quem ensina ao
filho.
Quantos bataguassuenses aprenderam fazer ofícios, atas, memorandos, enfim documentos administrativos de todos os tipos com ela?
Quantos bataguassuenses aprenderam fazer ofícios, atas, memorandos, enfim documentos administrativos de todos os tipos com ela?
Hoje em dia, onde galpões e fundos de quintal viram universidades, podemos, sem sombra de dúvidas, reconhecer que a casa de Diva
Câmara Martins foi a mini-universidade de sua
época - e com o diferencial da qualidade do que era ensinado - pois o Magistério - "sonho distante" para muitos
bataguassuenses - fluía em sua casa. Era de sua mente e de sua
Biblioteca particular que moças e moços encontraram os
conhecimentos mais avançados. Não havia outra casa com maior biblioteca, nem com a disponibilidade que lhe era peculiar. Não há como ignorar a
notabilidade dessa mulher.
Tempos
depois, quando Presidente Epitácio/SP veio a se tornar uma
referência para muitos jovens bataguassuenses, em termos de educação
sistematizada, ela já o tinha sido bem antes, portanto foi precursora na
busca pela formação de novos homens e mulheres bataguassuenses. Ela sabia que construia para o futuro.
Entendo que Diva
Câmara Martins chegou a Bataguassu com uma missão: desenvolver
missões.
Quantos
profissionais de diversas áreas buscaram nessa fonte inesgotável de
saber e bondade o modelo para sua vida futura?
Como
eu disse no início, sem tirar o brilho de Ênio Martins, que era um
homem reservado – mais para polido que para popular – nem por
isso sem brilho próprio, Diva Câmara Martins roubou a cena
despercebidamente e deu a Bataguassu sementes incontáveis, as
quais germinaram e permanecem frutificando.
Não
há como negar que ao lado de um bom homem pode existir uma grande
mulher, e que, por sê-lo, pode construir histórias muito mais
notáveis.
Quando
estive em Bataguassu, recentemente, conversando com d. Kimie Kavanami
de Lima, ela contou-me um fato lastimável, que fez-me corar de
vergonha, mesmo sem ter culpa. Disse-me
que alguns alunos
(vejam a ironia) de uma determinada escola bataguassuense,
passavam defronte à casa da grande dama da educação, Diva Câmara
Martins, e dirigiam-lhe
impropérios dos mais
baixos. Ela, sentada em sua cadeira, na varanda, fragilizada e impotente pelo peso da idade,
assistia o desrespeito em silêncio.
Para mim foi uma pancada na alma, pois é inimaginável que alguém possa ferir tamanho monumento. Principalmente quem a conheceu. É como atacar um patrimônio. A propósito, pelo que tenho visto, parece que isso tem se tornado moda em Bataguassu, onde até as autoridades apagam a própria história. Isso é digno de uma tese.
Para mim foi uma pancada na alma, pois é inimaginável que alguém possa ferir tamanho monumento. Principalmente quem a conheceu. É como atacar um patrimônio. A propósito, pelo que tenho visto, parece que isso tem se tornado moda em Bataguassu, onde até as autoridades apagam a própria história. Isso é digno de uma tese.
O
que pensar de uma juventude capaz disso? Não dá para acreditar que
ignoravam a grandiosidade daquela mulher, mas se o ignoravam realmente, por que
ofender uma pessoa idosa? Creio que os governantes devem convocar os jovens bataguassuenses, em massa, e reeducá-los junto com seus pais. Parece uma tarefa difícil, mas acredito muito em quem faz a diferença. Há tantas formas de se fazer isso.
Mas, finalizando, a lição que devemos tomar sobre Diva Câmara Martins é de uma pessoa que veio para ser útil. Para servir. Ela poderia também ter ficado em stand-by durante boa parte de sua vida. Mas escolheu estar sempre ligada a tudo e a todos. Que bom! Quisera que muitos sejam assim!
Mas, finalizando, a lição que devemos tomar sobre Diva Câmara Martins é de uma pessoa que veio para ser útil. Para servir. Ela poderia também ter ficado em stand-by durante boa parte de sua vida. Mas escolheu estar sempre ligada a tudo e a todos. Que bom! Quisera que muitos sejam assim!