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quinta-feira, 30 de junho de 2016

WILSON BARBOSA MARTINS: 99 ANOS


 21 de junho de 2016 - Por Theresa Hilcar (Correio do Estado)
Quem passa na frente de uma antiga casa na Rua 15 de Novembro, bem no centro de Campo Grande, costuma dizer: aqui morava o ex-governador Dr. Wilson Barbosa Martins. De vez em quando, alguém para e pergunta por ele. Muito raro.
Por conta de uma falsa notícia que correu na internet, ano passado, quando ele foi internado de emergência com embolia pulmonar, a maioria das pessoas acredita que o ex-governador já partiu para o andar de cima. Mas quem conhece bem Dr. Wilson sabe que ele não desiste fácil da luta. E hoje, dia 21 de junho, está completando 99 anos de idade. Vivo e bem, dentro do seu quadro clínico. Ele, que nasceu em 1917, quando o Brasil vivia sua primeira greve geral, em meio a uma crise econômica gerada pela Primeira Guerra Mundial, também enfrentou várias crises, mas não desistiu de nenhuma.
Há três anos, depois de sofrer um acidente vascular cerebral, ele vive sob cuidados de uma home care, cercado por pessoas ao seu lado 24 horas por dia. Até um ano atrás, ele recebia visitas, conversava e até saía com enfermeiro para tomar um sol no Parque das Nações Indígenas. Mas, por conta de um quadro de insuficiência pulmonar, teve que se submeter a uma traqueostomia e, claro, a vida ficou um pouco mais difícil.
 Além dos seus familiares, quem visita frequentemente o ex-governador é seu amigo, Plínio Rocha, que está com 89 anos. Vai dia sim, dia não. E conversa o tempo todo, mesmo sem obter resposta. Sem poder falar, Dr. Wilson se comunica por gestos ou piscadelas.
Está, como sempre foi, consciente de tudo ao seu redor. A equipe multidisciplinar é de primeira linha, composta de três médicos (o clínico geral, Dr. Fernando Vasconcelos, e os cardiologistas, Dr. Cláudio Soares e Dr. Edir Tamazato), cinco técnicos em enfermagem, dois fisioterapeutas e uma nutricionista.
Como não poderia deixar de ser, o Dr. Wilson está sendo tratado como um homem com sua história e personalidade merece: com zelo e respeito.

 Segundo o enfermeiro, que está com ele há quase dois anos, Flávio Meurer, o doutor – como eles o chamam – é o melhor paciente que ele já conheceu. Nunca reclama, não fica de mau humor nem nos piores momentos, e aceita tudo com tranquilidade. “É um lorde”, diz.
A mais antiga da equipe, Sandra Correa, que está com ele desde que voltou da primeira internação, chefe da equipe, tem tanto carinho pelo paciente que procura recriar o mesmo ambiente em que ele sempre viveu. Todos os dias, durante a manhã, coloca CDs e DVDs de óperas e músicas clássicas, que ele sempre gostou de ouvir. E já descobriu as suas preferências atuais: André Rieu, Andréa Bocelli, a ópera “Caruso” e, de vez em quando, até Roberto Carlos. O “doutor”, segundo ela, também gosta de assistir a noticiários.
Mas conta que, quando passa notícia da Operação Lava Jato, ele franze a testa em sinal de reprovação.
A filha mais velha, a antropóloga Thais – que deixou Campinas, onde morava, para cuidar do pai –, brinca, dizendo: “Quando ele está assistindo a jogos de futebol, faz sinal com a mão quando passo na frente da TV”. Ela está cuidando da fazenda da família desde que o pai adoeceu.
Thais diz que, de vez em quando, ele “escreve” usando o quadro de blocos – usado na fisioterapia –, perguntando: “E os bois?”. Isto, segundo ela, porque a renda dos bois cobre parte do tratamento – e ele, claro, fica preocupado. E também, brinca Thais, porque ele nunca pensou que mulher pudesse gerir uma fazenda.
 
Lembro-me que, certa vez, acompanhando-o no funeral de uma amiga em comum, arrisquei: “Dr. Wilson, dizem que a vida continua depois da morte e é bem melhor”. Ele me respondeu, sério: “Eu não tenho nenhuma pressa de verificar se isto é verdade”.
Guimarães Rosa, um dos autores favoritos de Dr. Wilson, tem uma frase que diz: “Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas que sempre passa. E você ainda pode ter um muito pedaço bom de alegria [...]. Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.”. Ele, sempre fiel à sua ideologia e à cultura, deve está seguindo à risca as palavras de Guimarães, de quem, aliás, tem em sua biblioteca um livro autografado da primeira edição.
“Afinal, há que ter paciência, dar tempo ao tempo. Já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte”. Dr. Wilson, pelo visto, não tem pressa. Ainda bem!

OPÚSCULO SOBRE BATAGUASSU - POR VILMA MARTINS E SOUZA

Este opúsculo foi escrito em 1984, pela bacharel em Direito, Vilma Martins e Souza (in memorian). É o primeiro material impresso sobre a história de Bataguassu. Reproduzo-o principalmente para servir aos pesquisadores e estudantes, haja vista que por ser um material frágil, muitos nem o conheçam.
Ao mesmo tempo em que faz um bom resumo de tudo o que interessa aos munícipes sobre o lugar onde residem, a autora deixa o leitor bem situado sobre os avanços obtidos ao longo dos anos, presenteando-o com alguns poemas de Diva Câmara Martins e uma música de autor desconhecido, a qual foi celebrizada na voz do intérprete popular José Elias Saldanha da Silva, um adolescente que a cantava por onde quer que andasse nos meus tempos de adolescência. 
Vilma Martins encontrava-se organizando essa publicação quando eu perguntei a ela por quê escolheu justamente essa música. Ela respondeu-me que aquilo "era história, por mais que fosse desagradável, e que até então desconhecia algo que fizesse páreo ou superasse o grau de medo incutido na Bataguassu à ocasião do fato". Segundo ela, foi algo tão amedrontador, que mal escurecia as pessoas se recolhiam, amedrontadas. Bataguassu era inocente demais para um acontecimento tão trágico.
Esse material se torna curioso quando conhecemos os seus patrocinadores, sempre no rodapé de cada página. Observamos que ainda existia o Comercial Luzitana. o supermercado mais antigo do município, dentre outras casas comerciais hoje inexistentes. É apenas um detalhe.
A capa do opúsculo foi feita por Luiz Danieleski; eu, então com 17 anos, fiz as ilustrações internas. Recordo-me que ela pediu que eu fizesse dois desenhos: um sobre a história; outro que nos reportasse ao esporte. Como o auge do esporte era o basquete, não pensei duas vezes. Quando ela pegou o desenho com a ampola de injeção, riu e disse: "esse desenho fala por si... parabéns!".