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quarta-feira, 13 de julho de 2016

A COMPLEXIDADE DA MENTE HUMANA - É SEMPRE BOM OS PAIS BUSCAREM "O OLHAR RAIO-X"

 
Acabei de ler este livro - lançado recentemente - e o recomendo a todos os professores e pais (principalmente); obviamente que psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, neurologistas também o leram, mas se ainda não o fizeram, é bom. Com certeza, muito se lembram desse fato que chocou o mundo. Não dá para entender como dois adolescentes entram numa escola e saem matando quem encontram pela frente. É algo inexplicável. O assunto é complexo demais. Lembro-me ter lido há muito tempo diversas pessoas condenando os pais de ambos os garotos, mas é muito injusta essa sentença, pois tratam-se de pessoas que tinham os pés no chão e educaram os filhos com a devida rédea.
É até compreensível perceber hostilidades por parte de quem desconhecia como esses jovens foram educados principalmente por Dylan, afinal mataram mais de 20 pessoas, e de forma bárbara, deixando várias com sequelas eternas. Mas os pais não podem ser culpados - execrados - se só ensinaram a esses jovens o caminho correto, proporcionando-lhes tudo o que puderam para que eles fossem cidadãos de bem.
SUE KLEBOLD
Como a autora é mãe de Dylan Klebold, me atenho mais aos aspectos dessa família, a qual educou os filhos da maneira mais correta possível. Ele foi educado com aquela liberdade saudável, mas os pais não admitiam que ele falasse mais grosso ou emitisse o mais simples dos palavrões.
É incrível a honestidade como a mãe escreve. Há imparcialidade. Ela finda admitindo que era mãe de um monstro, embora não deixa de externar amor infinito ao filho que ela desconhecia. Dylan era um suicida em potencial e guardava todos os seus planos de forma imperceptível ao pai, a mãe e ao irmão. Jamais alguém poderia imaginar o que estaria por acontecer, vendo aquele filho tão amoroso. Infelizmente tinha uma personalidade influenciável, submetendo-se às ordens de Erich, um jovem psicopata sanguinário que estudava com ele na Escola de Columbyne.
Sue Klebold abre o coração. Deixa sua alma transparente. Dylan era um filho tão decente que não dava margens para que ela o enxergasse como capaz de tamanha insanidade e perversidade. Ela passou muito tempo apegada a imagem do filho que conheceu por fora (filho maravilhoso) e portanto desconhecia o filho que ele era por dentro.
O livro ajuda os pais a lançar um novo olhar aos filhos. Precisamos olhar os nossos filhos sob todas as dimensões. Sem paranoias, obviamente, mas observar mais. No caso de Dylan, ele não gostava da vida. Pensava apenas em morrer. Nunca permitiu que alguém percebesse isso. E nessa paranoia teve um surto e levou mais um monte com ele no dia do seu suicídio.
Tivemos um caso parecido, no Rio de Janeiro, conhecido como "O Massacre do Realengo". Muitas vezes pensamos que as coisas só acontecem nos EUA, e nos enganamos, afinal é tudo fruto da mente humana.
DYLAN KLEBOLD
Creio que o grande erro está na incapacidade de as escolas enxergarem mais os seus alunos. Com certeza não é unicamente o amor familiar que impediria uma tragédia desse tipo. Ao mesmo tempo dá um nó na cabeça, pois muitas vezes um bom profissional não enxerga ou não está preparado para o "olhar de raio-x".
É comum a pais e mães buscarem fórmulas para se educar os filhos, como se existisse uma "receita infalível da vovó". Às vezes busca-se uma espécie de receita mágica, mas tudo isso é em vão. A própria família Klebold era uma família normal. Ela relata alguns episódios problemáticos vividos na pré adolescência de Dylan, mas nada que se deduza ter sido a causa. Há, inclusive, situações-problema muito próximos a qualquer um de nós, muito piores - sobre adolescentes desvirtuados - e que não se tornaram um matador ou algo parecido. Nem sempre quem sofre bullyng fará vítimas. Às vezes uma vítima do bullyng fará o mesmo em outro lugar. As coisas são muito relativas. De um lar muitas vezes tirano pode sair um anjo. Vê como a fórmula não é a fórmula! A coisa está dentro da pessoa e precisa ser enxergada (daí aquela coisa do olhar redobrado/profundo/perscrutante... meio raio-x).

Uma vez eu disse "na lata" a um pai pastor protestante: "conhecemos os nossos filhos quando os desconhecemos". Meio hostil, ele queria me obrigar a rasgar uma advertência, a qual o seu filho havia feito jus. Ao ouvir isso ele teve um choque. Ficou parado me olhando e foi embora. A partir daí começou a olhar o filho de outro jeito. O garoto era outro no ambiente escolar. Não era o que o pai via em casa. Havia um outro 'eu' naquele menino. E esse outro eu era invisível na casa do pastor. Um dia esse pastor me encontrou na rua e me abraçou. Tenho impressão que ele colocou o seu detector de "coisas perigosas do filho" para funcionar, e o consertou a tempo.
É muito difícil. É complexo.

A partir do momento que uma criança põe o pé na rua, enfrentará conflitos, e se não estiver preparada pela escola e pela família, nutrirá as suas neuras (muitas vezes em silêncio). É na sociedade (no mundo/lá fora) que ela será ela, que ela encontrará seus amigos, seus falsos amigos, SEUS ALGOZES... suas vítimas.
ERICH
Às vezes a timidez, aliada a um complexo de inferioridade, a obesidade, um olhinho vesgo, "um jeitinho esquisito", uma deficiência física enfim algo que "fuja a padrões culturais", pode se transformar numa grande tragédia futura. Algumas vítimas de preconceitos - ou pessoas rejeitada por grupos - ainda extravasam, mas outros guardam para explodir de uma vez só. E da pior forma.
No meu entendimento as escolas, os professores e pessoas da área da educação estão meio medievais nesse sentido, pois cabe a elas olhar com profundidade cada aluno. Há profissionais da educação que fazem vistas grossas para não se indispor com alguém ou não ter um trabalho a mais. A escola também é a mola propulsora para as piores coisas, pois, diferente da casa onde ela mora (onde só está a família) estão todos.
TOM KLEBOLD
Há alguns anos uma escritora amiga me disse que seu filho começou a usar droga numa renomada escola católica de Natal. Os encontros, as mancomunações, os acordos eram feitos dentro da escola e extravasavam fora dela. A escola era o "escritóriao de planejamento". Vejam como são as coisas.
Muitas vezes o início de uma tragédia começa debaixo dos olhos de um professor/diretor/funcionário escolar... pais. A banalização do bullyng, por exemplo, impede de se ajudar muitas vítimas, sejam crianças ou adolescentes.
Na realidade tudo é muito complexo. Não existe um truque mágico, mas olhar mais, e com outro olhar - o filho/aluno - é muito importante.