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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Brincamentos de frio

Apetecia-me Bataguassu gelada
Dormir acasulado de alcochoados é lembrança que até hoje me acalora.
Amanhecíamos lesmas até nossas mães nos darem partida.
Daí enfrentar as rajadas de frio.
Na mesa do café, no quintal, onde resvalacem os raios de sol, havia disputamentos.
Mas nem tudo era monótono.
Havia brincamentos de frio.
Eram esses:
1) balançamentos de varal de arame para ver saltar longe os filetes de gelo,


2) Amassamentos de roupas madrugadas no varal para auferir trics-trics.


3) enfiamentos de dedo em película de gelo de balde amanhecido com roupa de molho.


4) desenhamentos com lápis-dedo sobre gelo assentado em carros.

5) colocamentos de língua para grudamento em lataria de carros (sem caneca de água morna fica grudado para sempre)

6) colheitamento de lagrimazinhas de sereno congeladas na ponta das flores,

7) quebramentos de espinhos de gelo formados na grama,


8) soltamento ar quente da boca para fazer pequenos nevoeiros,

9) raspamento da lâmina de gelo com as unhas nos carros para sentir a massa gelada entre as unhas.

Vejam só,
Eram nove brincamentos;
Brincamentos de frio.

Tarde pantaneira


No muro do horizonte o sol desaparece a última gota escarlate.
A tarde, idosa, fenece.
Manguaris grasnam com voz plangente.
Gaivotas piam, roçagando as águas,
Arapongas proferem seus últimos estrídulos chamados no silêncio soturno da mata,
A avifauna se recolhe,
Os lírios brancos de flores lilazes quindagorinha boiavam à flor da água, desaparecem sobre o negro cobertor;
É possível ouvir o choro da noite recém-nascendo.
O tapete de faróis luminosos forra o rio.
É a única luz depois dos vagalumes volitando a pele escura da noite
Luz da usina jacarés.
É hora da sinfonia dos sapos.