Quando
estive o menino que não sou agora apenas por fora
Tinha
propensão às matas.
O
magnetismo selvagem sugavame de modo matame
Embrenhando-me
em seus desígnios
Tinha de guia um gato que nunca descompareceu de mim
Portando
meu senso de direção felino não tinha apegos geográficos.
A
experiência do silêncio quebrado unicamente por voz animal ou
minhas pisadas alçava-me a estado de bicho.
Os
eflúvios silvestres, o murmúrio dos rios...
Tudo
tinha estado de mim
É
indescritível o encantamento.
Havia
um mimetismo
Como
se as árvores e os bichos fossem minha pele.
Nunca
fui desrecebido.
Havia
inexistência de medo
Havia
supremacia de coragem despercebida.
Se
real a tese espírita, fui bugre.
Fascinava-me
as frutas e flores estranhas
Os
sabores e perfumes inesquecíveis e inexplicáveis.
As
melhores floriculturas desconheciam os buquês exóticos, saídos de
arbustos, árvores e trepadeiras.
A
mata tem coisas de realezas
Os
bandos de seriemas atravessando o riacho Sapê, os coelhos
saltitantes, talvez tentando assustar-me...
E
a onça que saltou da ingazeira e vestiu-se com as águas do rio
Pardo?
O
coração desse bugre-menino saltou pela boca
Não
de medo
Mas
de encanto excelso.
Um
dia encontrei serpentes recém-nascidas num toco podre de jequitibá.
Lembravam
minhocas entrelaçadas.
Pareciam
adultas pela destreza como serpenteavam o corpo
Coisa
de instintos.
Espetaculares os botes sorrateiros.
As
linguinhas vermelhinhas aprendendo a cheirar e sentir o perigo.
Corri
riscos quando afaguei os filhotes de gato do mato sibilando iguais às
onças.
Creio
ser um deles que entrou dentro de mim.
Os
guinchos dos macacos ensurdeciam...
Nesses
empreendimentos silvestres confundia meu habitat
Desaparecia
de mim as urbanidades...
Mas logo
surgia o estirão arenoso depois das cercas de aroeira...
Sabia
a estrada de Bataguassu a Uerê.
Era
seguir a linha pintada com as cores do por do céu
Reaparecia
distante a cidade ao
compasso dos passos ligeiros
Escuto o chamado maternal que não precisava de voz.
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