Acabei de ler este livro - lançado recentemente - e o recomendo a todos
os professores e pais (principalmente); obviamente que psicólogos,
psiquiatras, psicanalistas, neurologistas também o leram, mas se ainda
não o fizeram, é bom. Com certeza, muito se lembram desse fato que chocou o mundo. Não dá
para entender como dois adolescentes entram numa escola e saem matando
quem encontram pela frente. É algo inexplicável. O assunto é complexo
demais. Lembro-me ter lido há muito tempo diversas pessoas condenando
os pais de ambos os garotos, mas é muito injusta essa sentença, pois
tratam-se de pessoas que tinham os pés no chão e educaram os filhos com a devida rédea.
É até compreensível
perceber hostilidades por parte de quem desconhecia como esses jovens foram educados principalmente por Dylan, afinal mataram mais de 20
pessoas, e de forma bárbara, deixando várias com sequelas eternas. Mas
os pais não podem ser culpados - execrados - se só ensinaram a esses
jovens o caminho correto, proporcionando-lhes tudo o que puderam para
que eles fossem cidadãos de bem.
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SUE KLEBOLD |
Como a autora é mãe de Dylan
Klebold, me atenho mais aos aspectos dessa família, a qual educou os
filhos da maneira mais correta possível. Ele foi educado com aquela
liberdade saudável, mas os pais não admitiam que ele falasse mais grosso
ou emitisse o mais simples dos palavrões.
É incrível a honestidade
como a mãe escreve. Há imparcialidade. Ela finda admitindo que era mãe
de um monstro, embora não deixa de externar amor infinito ao filho que
ela desconhecia. Dylan era um suicida em potencial e guardava todos os
seus planos de forma imperceptível ao pai, a mãe e ao irmão. Jamais
alguém poderia imaginar o que estaria por acontecer, vendo aquele filho
tão amoroso. Infelizmente tinha uma personalidade influenciável,
submetendo-se às ordens de Erich, um jovem psicopata sanguinário que
estudava com ele na Escola de Columbyne.
Sue Klebold abre o coração.
Deixa sua alma transparente. Dylan era um filho tão decente que não
dava margens para que ela o enxergasse como capaz de tamanha insanidade e
perversidade. Ela passou muito tempo apegada a imagem do filho que
conheceu por fora (filho maravilhoso) e portanto desconhecia o filho que
ele era por dentro.
O livro ajuda os pais a lançar um novo olhar
aos filhos. Precisamos olhar os nossos filhos sob todas as dimensões.
Sem paranoias, obviamente, mas observar mais. No caso de Dylan, ele não
gostava da vida. Pensava apenas em morrer. Nunca permitiu que alguém
percebesse isso. E nessa paranoia teve um surto e levou mais um monte
com ele no dia do seu suicídio.
Tivemos um caso parecido, no Rio de
Janeiro, conhecido como "O Massacre do Realengo". Muitas vezes
pensamos que as coisas só acontecem nos EUA, e nos enganamos, afinal é
tudo fruto da mente humana.
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DYLAN KLEBOLD |
Creio que o grande erro está na
incapacidade de as escolas enxergarem mais os seus alunos. Com certeza
não é unicamente o amor familiar que impediria uma tragédia desse tipo.
Ao mesmo tempo dá um nó na cabeça, pois muitas vezes um bom
profissional não enxerga ou não está preparado para o "olhar de raio-x".
É comum a pais e mães buscarem fórmulas para se educar os filhos, como
se existisse uma "receita infalível da vovó". Às vezes busca-se uma
espécie de receita mágica, mas tudo isso é em vão. A própria família
Klebold era uma família normal. Ela relata alguns episódios
problemáticos vividos na pré adolescência de Dylan, mas nada que se
deduza ter sido a causa. Há, inclusive, situações-problema muito
próximos a qualquer um de nós, muito piores - sobre adolescentes
desvirtuados - e que não se tornaram um matador ou algo parecido. Nem
sempre quem sofre bullyng fará vítimas. Às vezes uma vítima do bullyng
fará o mesmo em outro lugar. As coisas são muito relativas. De um lar
muitas vezes tirano pode sair um anjo. Vê como a fórmula não é a
fórmula! A coisa está dentro da pessoa e precisa ser enxergada (daí
aquela coisa do olhar redobrado/profundo/perscrutante... meio raio-x).
Uma vez eu disse "na lata" a um pai pastor protestante: "conhecemos os
nossos filhos quando os desconhecemos". Meio hostil, ele queria me
obrigar a rasgar uma advertência, a qual o seu filho havia feito jus. Ao
ouvir isso ele teve um choque. Ficou parado me olhando e foi embora. A
partir daí começou a olhar o filho de outro jeito. O garoto era outro no
ambiente escolar. Não era o que o pai via em casa. Havia um outro 'eu'
naquele menino. E esse outro eu era invisível na casa do pastor. Um dia
esse pastor me encontrou na rua e me abraçou. Tenho impressão que ele
colocou o seu detector de "coisas perigosas do filho" para funcionar, e o
consertou a tempo.
É muito difícil. É complexo.
A partir do
momento que uma criança põe o pé na rua, enfrentará conflitos, e se não
estiver preparada pela escola e pela família, nutrirá as suas neuras
(muitas vezes em silêncio). É na sociedade (no mundo/lá fora) que ela
será ela, que ela encontrará seus amigos, seus falsos amigos, SEUS
ALGOZES... suas vítimas.
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ERICH |
Às vezes a timidez, aliada a um complexo de
inferioridade, a obesidade, um olhinho vesgo, "um jeitinho esquisito",
uma deficiência física enfim algo que "fuja a padrões culturais", pode
se transformar numa grande tragédia futura. Algumas vítimas de
preconceitos - ou pessoas rejeitada por grupos - ainda extravasam, mas
outros guardam para explodir de uma vez só. E da pior forma.
No meu
entendimento as escolas, os professores e pessoas da área da educação
estão meio medievais nesse sentido, pois cabe a elas olhar com
profundidade cada aluno. Há profissionais da educação que fazem vistas
grossas para não se indispor com alguém ou não ter um trabalho a mais. A
escola também é a mola propulsora para as piores coisas, pois,
diferente da casa onde ela mora (onde só está a família) estão todos.
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TOM KLEBOLD |
Há alguns anos uma escritora amiga me disse que seu filho começou a
usar droga numa renomada escola católica de Natal. Os encontros, as
mancomunações, os acordos eram feitos dentro da escola e extravasavam
fora dela. A escola era o "escritóriao de planejamento". Vejam como são
as coisas.
Muitas vezes o início de uma tragédia começa debaixo dos
olhos de um professor/diretor/funcionário escolar... pais. A banalização
do bullyng, por exemplo, impede de se ajudar muitas vítimas, sejam
crianças ou adolescentes.
Na realidade tudo é muito complexo. Não
existe um truque mágico, mas olhar mais, e com outro olhar - o
filho/aluno - é muito importante.