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quarta-feira, 27 de julho de 2016

O SURGIMENTO DE UMA ESCOLA... A MANOEL DA COSTA LIMA

Em 1989, organizei a exposição de um acervo que juntei ao longo do tempo sobre a História e a Memória de Bataguassu. 
Para enriquecer a mostra, contei com a sensibilidade de alguns moradores mais antigos, reunindo objetos/materiais/documentos de pessoas como D. Kimie Kavanami de Lima, Sr. Ambrósio, Dona Olga, Sr. Aparício, D. Guiomar Cardoso, meu pai, José Amaro Freire, Sr. Kubik, D. Diva Câmara, enfim de várias pessoas. 
A exposição foi um sucesso, e todas as escolas prestigiaram, conforme mostram as fotografias.
Quando estive em Bataguassu, há 12 meses, deparei-me com esse velho documento denominado: "Registro de Matrícula e Frequência de Alunos", da "Escola Mista Rural Vale do Ivinhema", em Bataguassu, ano: 1946, o qual esteve na exposição. Era a semente do que se tornaria muitos anos depois a Escola Estadual Manoel da Costa Lima.  Não estou dizendo que a EEMCL surgiu em 1946. Muitos anos antes de Jan Antonin Bata aparecer na área, já existiam algumas escolas subordinadas a Rio Brilhante pelas redondezas, inclusive na Fazenda Uerê. Como Bataguassu era distrito desse município, à época, a "Escola Mista Rural Vale do Ivinhema" era uma delas. Muitas eram meros ranchos.
Quem pensa que a EEMCL foi a primeira escola de Bataguassu está enganado, mas, inegavelmente, a "Escola Mista Rural Vale do Ivinhema", por estar situada na área que futuramente se tornou o centro de Bataguassu, pode ser considerada o croqui da EEMCL.
Com relação ao documento, trata-se de um material muito rico em informações, pois além de revelar os nomes dos alunos da época, traz os nomes dos pais, as idades, os endereços, as funções dos pais etc.
Revendo essas velhas fotografias, resolvi construir esse texto. Não trago nada de novo (exceto para quem não conhecia esses detalhes). E para ajudar, contextualizei com o registro de alguns episódios da nossa velha escola.

Inauguração da Escola Manoel da Costa Lima - Nesse dia, Edite Bata,  filha de Jan Antonin Bata descerrou a fita que a inaugurava.
Assim teve início a Escola Manoel da Costa Lima - Muito tempo depois, esse acanhado pátio foi fechado para dar origem a mais duas salas de aula. Nos fundos construíram um pátio que pegava de um lado ao outro. Depois o lado direito recebeu degraus e  uma porta, transformando-se na Sala de Professores (ainda desfrutei dessa arquitetura). Para saber o ângulo dessa fotografia, imagine que você estava defronte ao "Clube do Didi" e deu um 'click'.
Esse era o cenário da época
Edite Bata no momento da inauguração junto às demais autoridades.
Escola Estadual Manoel da Costa Lima, construída durante a gestão de Ênio Martins;aspecto moderníssimo para a época (Acervo: S. Oliveira)
Muito tempo depois foi erigido um moderno e amplo prédio (Acervo: S. Oliveira)
Como se faz até hoje, os desfiles cívicos percorriam as principais ruas. Aqui passa pela Avenida Campo Grande.
Essa fotografia mostra dois momentos da Manoel da Costa Lima. O primeiro é aquele espaço que vimos acima, inaugurado pela filha de Jan Antonin Bata (observe que já havia sido ampliado); à direita vemos o moderno prédio.
Novamente passando pela Avenida Campo Grande, mais um desfile cívico, há 52 anos.

Flagrante de um momento educativo no interior da "Manoel".
Alunos da Escola Manoel da Costa Lima acompanhados de alguns professores. Da direita para esquerda reconheço minha irmã, Lúcia Freire Mainente, Lúcia Thomazine (dona da foto), Bertoni, e os demais não me lembro.

Registro de um dia aparentemente calmo Escola Estadual Manoel da Costa Lima
 A história dessa escola é mais ou menos assim... primeiro foi lançada a semente, depois vieram as vergônteas e os galhos se enrijeceram. Formou-se a árvore que deu outros galhos, muitas flores e frutos, e esses frutos continuam se espalhando sob as mais diversas nuanças. Não tem fim...
Em primeiro plano, "sala dos professores" seguida das salas de aulas. Essa é a parte mais antiga da escola, oriunda daquele espaço que foi inaugurado pela filha de Bata, conforme fotografia anterior (Acervo S. Oliveira).



O povo assistindo a mais um desfile da EEMCL, defronte ao coreto de madeira da Praça Jan Antonin Bata. O prédio, em destaque, era do Sr,"Monoel Alemão", futura "Mercearia do Vilela". A construção de madeira, adiante, era a casa do Sr. Expedito, vigia da antiga prefeitura. Era esposa da D. Francisca (pais do "Curió"). Ali, nessa ocasião, funcionava o Comitê do "MDB" de  Ênio Martins, conforme estampam o letreiro de Borges Berto.
EEMCL em desfile (Acervo: S. Oliveira).





segunda-feira, 18 de julho de 2016

AS FESTAS AMERICANAS EM BATAGUASSU

Muito ponche, salgadinhos, LP's de vinil girando numa radiola, conversa jogada fora, risadas e alegria. Essa era a tônica das festas americanas da Bataguassu da minha adolescência. Não sei se foi exclusividade da minha geração ou ioiô de modismos, mas foi algo viral na minha época de adolescente. E como ninguém é adolescente sozinho, quase todos se revezavam na organização dessas festas cobiçadas.
Embora não havia nada de negativo nesses eventos, nem todos os pais cediam espaço e tampouco permitiam que os filhos o apreciassem. A autorização dependia da cultura de cada família. Nem todos eram abertos para receber um monte de adolescentes em suas casas até a meia-noite. O horário não passava disso. Às vezes até menos.
Normalmente o espaço utilizado era a sala ou a varanda. Por mais que fosse algo ingênuo – comparado a muita coisa que vemos hoje – alguns pais a interpretavam como invencionice boba de jovem. Coisa de "gente rebelde que dita moda degradante para ferir a honra e a moral da família" (pensariam assim?!). Imagine se tais pais vissem uma balada regada a comprimidos de êxtase e cocaína como acontece tantas por aí, muitas vezes com consequências terríveis.
Mas voltando ao assunto, tais festas pediam organização prévia. O primeiro passo era um anfitrião (ou anfitriã) para recepcionar os amigos. Depois fazia-se uma lista de comes-e-bebes, e cada um dava um produto. Era só esperar pela noite. O ponche era preparado pelas meninas à tarde para que a bebida adquirisse uma delicada fermentação. Se feito na hora não tinha gosto. A fermentação branda das frutas emprestava um sabor especial à bebida, agravando o teor alcoólico. Mas como a quantidade de vinho era muito reduzida, ninguém ficava bêbado, por mais que as bochechas esquentassem. Apenas os salgados eram preparados por último.
O ponche era feito com vinho misturado em água, açúcar e pequena variedade de frutas picadas. Quase sempre se usava uva, laranja, maçã e abacaxi. Algumas pessoas eram cuidadosas e picavam em tamanhos minúsculos. Outras deixavam nacos imensos. Havia quem o preparasse de modo mais sofisticado, acrescentando champanhe, suco de laranja ou limão. A iguaria era preparada em caldeirões ou panelões grandes de alumínio. Na hora de servir, colocava-se em vasilhas mais apresentáveis, abastecendo-as à medida que iam sendo consumido. Alguns nem se importavam em servir ali mesmo no balde.
Ao lado da vasilha do ponche, sobre um prato, ficava uma concha usada para retirar a bebida. Às vezes disponibilizavam uma vasilha paralela, com gelo. Outros já despejavam o gelo assim que preparavam a bebida. Desse jeito quem vinha por último tomava uma espécie de garapa.

Outro atrativo da "festa americana" era os salgadinhos. Normalmente os participantes levavam bandejas com coxinha ou pastelzinho. Não passava disso. Algumas meninas – prendadas – faziam com muito capricho, outras deixavam a massa semelhante à sola de sapato, quando não, salgavam demais. Mas tudo se resolvia com um gole de ponche. O ponche era o principal de uma "festa americana", por isso se fazia em grande quantidade. Quem organizasse uma festa com pouco ponche passava vergonha. Lembro-me de uma festa em que flagrei um grupo criticando a anfitriã, suspeitando que a mesma havia ficado com parte das frutas e feito o ponche com a metade do que foi arrecadado.
Mas não acaba aí. A "festa americana" era uma desculpa para uma cidade sem danceteria. Não existia a “Badallus Club”. Na realidade, era como fazer da casa alheia a sua pista de dança, ou a sua discoteca, danceteria etc. Nesses embalos de sábado à noite as agulhas das radiolas sulcavam Olívia Newton John, Menudo, John Travolta, Pholhas, Bee Gees etc etc etc. Acontecia também de o participante chegar com um LP debaixo do braço. Nesse ponto a festa era bem democrática. Engraçado era quando um disco arranhado empacava exatamente na melhor música. Ficava repetindo um trecho até que alguém corresse até a vitrola e passasse para a próxima faixa.
Um detalhe curioso desses momentos descontraídos era o fato de o som não ser alto. As próprias radiolas nem permitiam o som explosivo como se vê nas baladas atuais. A vantagem era que isso permitia aos jovens dançar e conversar numa boa, sem gritar. Havia uma química saudável entre o som e a conversa. E obviamente não se incomodava os vizinhos.

Uma grande anfitriã de “festa americana” em Bataguassu foi a senhora Deise do Amaral Campos Prieto, a qual tinha uma mente jovem e acolhia a todos com simpatia e delicadeza. O interessante nesses momentos descontraídos era a aura familiar e saudável. Os pais – ou as pessoas mais velhas – permaneciam no evento com naturalidade, ocupados em algum afazer ou em ambientes mais reservados, assistindo TV.
E foi nessa "efervescência cultural" que muitos namoros surgiram. Alguns até findaram em marcha nupcial. Houve quem "fugisse" da festa americana para o início de uma vida conjugal. No outro dia as línguas tilintavam nos céus das bocas: "... a filha de fulano fugiu!"
Oh!
Mas, depois, tudo se resolvia. Muitos "casamentos fugidos" duram até hoje (creio), em detrimento de casamentos feitos nos moldes tradicionais, diluídos com o tempo. E também foi nessas festas que muitas amizades surgiram e se fortaleceram até os dias atuais.
Certo dia apareceu em Bataguassu a "Danceteria Badall'us Club" e pôs abaixo as festas americanas... não teve mais graça fazê-la. Quem iria concorrer com um espaço, moderno, jovem, e cheio de novidades?

quarta-feira, 13 de julho de 2016

A COMPLEXIDADE DA MENTE HUMANA - É SEMPRE BOM OS PAIS BUSCAREM "O OLHAR RAIO-X"

 
Acabei de ler este livro - lançado recentemente - e o recomendo a todos os professores e pais (principalmente); obviamente que psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, neurologistas também o leram, mas se ainda não o fizeram, é bom. Com certeza, muito se lembram desse fato que chocou o mundo. Não dá para entender como dois adolescentes entram numa escola e saem matando quem encontram pela frente. É algo inexplicável. O assunto é complexo demais. Lembro-me ter lido há muito tempo diversas pessoas condenando os pais de ambos os garotos, mas é muito injusta essa sentença, pois tratam-se de pessoas que tinham os pés no chão e educaram os filhos com a devida rédea.
É até compreensível perceber hostilidades por parte de quem desconhecia como esses jovens foram educados principalmente por Dylan, afinal mataram mais de 20 pessoas, e de forma bárbara, deixando várias com sequelas eternas. Mas os pais não podem ser culpados - execrados - se só ensinaram a esses jovens o caminho correto, proporcionando-lhes tudo o que puderam para que eles fossem cidadãos de bem.
SUE KLEBOLD
Como a autora é mãe de Dylan Klebold, me atenho mais aos aspectos dessa família, a qual educou os filhos da maneira mais correta possível. Ele foi educado com aquela liberdade saudável, mas os pais não admitiam que ele falasse mais grosso ou emitisse o mais simples dos palavrões.
É incrível a honestidade como a mãe escreve. Há imparcialidade. Ela finda admitindo que era mãe de um monstro, embora não deixa de externar amor infinito ao filho que ela desconhecia. Dylan era um suicida em potencial e guardava todos os seus planos de forma imperceptível ao pai, a mãe e ao irmão. Jamais alguém poderia imaginar o que estaria por acontecer, vendo aquele filho tão amoroso. Infelizmente tinha uma personalidade influenciável, submetendo-se às ordens de Erich, um jovem psicopata sanguinário que estudava com ele na Escola de Columbyne.
Sue Klebold abre o coração. Deixa sua alma transparente. Dylan era um filho tão decente que não dava margens para que ela o enxergasse como capaz de tamanha insanidade e perversidade. Ela passou muito tempo apegada a imagem do filho que conheceu por fora (filho maravilhoso) e portanto desconhecia o filho que ele era por dentro.
O livro ajuda os pais a lançar um novo olhar aos filhos. Precisamos olhar os nossos filhos sob todas as dimensões. Sem paranoias, obviamente, mas observar mais. No caso de Dylan, ele não gostava da vida. Pensava apenas em morrer. Nunca permitiu que alguém percebesse isso. E nessa paranoia teve um surto e levou mais um monte com ele no dia do seu suicídio.
Tivemos um caso parecido, no Rio de Janeiro, conhecido como "O Massacre do Realengo". Muitas vezes pensamos que as coisas só acontecem nos EUA, e nos enganamos, afinal é tudo fruto da mente humana.
DYLAN KLEBOLD
Creio que o grande erro está na incapacidade de as escolas enxergarem mais os seus alunos. Com certeza não é unicamente o amor familiar que impediria uma tragédia desse tipo. Ao mesmo tempo dá um nó na cabeça, pois muitas vezes um bom profissional não enxerga ou não está preparado para o "olhar de raio-x".
É comum a pais e mães buscarem fórmulas para se educar os filhos, como se existisse uma "receita infalível da vovó". Às vezes busca-se uma espécie de receita mágica, mas tudo isso é em vão. A própria família Klebold era uma família normal. Ela relata alguns episódios problemáticos vividos na pré adolescência de Dylan, mas nada que se deduza ter sido a causa. Há, inclusive, situações-problema muito próximos a qualquer um de nós, muito piores - sobre adolescentes desvirtuados - e que não se tornaram um matador ou algo parecido. Nem sempre quem sofre bullyng fará vítimas. Às vezes uma vítima do bullyng fará o mesmo em outro lugar. As coisas são muito relativas. De um lar muitas vezes tirano pode sair um anjo. Vê como a fórmula não é a fórmula! A coisa está dentro da pessoa e precisa ser enxergada (daí aquela coisa do olhar redobrado/profundo/perscrutante... meio raio-x).

Uma vez eu disse "na lata" a um pai pastor protestante: "conhecemos os nossos filhos quando os desconhecemos". Meio hostil, ele queria me obrigar a rasgar uma advertência, a qual o seu filho havia feito jus. Ao ouvir isso ele teve um choque. Ficou parado me olhando e foi embora. A partir daí começou a olhar o filho de outro jeito. O garoto era outro no ambiente escolar. Não era o que o pai via em casa. Havia um outro 'eu' naquele menino. E esse outro eu era invisível na casa do pastor. Um dia esse pastor me encontrou na rua e me abraçou. Tenho impressão que ele colocou o seu detector de "coisas perigosas do filho" para funcionar, e o consertou a tempo.
É muito difícil. É complexo.

A partir do momento que uma criança põe o pé na rua, enfrentará conflitos, e se não estiver preparada pela escola e pela família, nutrirá as suas neuras (muitas vezes em silêncio). É na sociedade (no mundo/lá fora) que ela será ela, que ela encontrará seus amigos, seus falsos amigos, SEUS ALGOZES... suas vítimas.
ERICH
Às vezes a timidez, aliada a um complexo de inferioridade, a obesidade, um olhinho vesgo, "um jeitinho esquisito", uma deficiência física enfim algo que "fuja a padrões culturais", pode se transformar numa grande tragédia futura. Algumas vítimas de preconceitos - ou pessoas rejeitada por grupos - ainda extravasam, mas outros guardam para explodir de uma vez só. E da pior forma.
No meu entendimento as escolas, os professores e pessoas da área da educação estão meio medievais nesse sentido, pois cabe a elas olhar com profundidade cada aluno. Há profissionais da educação que fazem vistas grossas para não se indispor com alguém ou não ter um trabalho a mais. A escola também é a mola propulsora para as piores coisas, pois, diferente da casa onde ela mora (onde só está a família) estão todos.
TOM KLEBOLD
Há alguns anos uma escritora amiga me disse que seu filho começou a usar droga numa renomada escola católica de Natal. Os encontros, as mancomunações, os acordos eram feitos dentro da escola e extravasavam fora dela. A escola era o "escritóriao de planejamento". Vejam como são as coisas.
Muitas vezes o início de uma tragédia começa debaixo dos olhos de um professor/diretor/funcionário escolar... pais. A banalização do bullyng, por exemplo, impede de se ajudar muitas vítimas, sejam crianças ou adolescentes.
Na realidade tudo é muito complexo. Não existe um truque mágico, mas olhar mais, e com outro olhar - o filho/aluno - é muito importante.

sábado, 9 de julho de 2016

BATAGUASSU - CAPACITAÇÃO PARA O MOBRAL - 1985

Os cursos de formação profissional para professores, seja onde for, sempre pedem uma autoridade no assunto, assim trazem novidades, atualizando a classe. Esta fotografia, feita na "Escola Marechal Cândido Rondon", mostra o então professor Mongelli, respeitável educador sul-matogrossense numa grande aula para os professores do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). A professora Vanilda Ricartes (sapato vermelho) era a Secretária Municipal de Educação na época.

O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) foi um órgão do governo brasileiro, instituído pelo decreto nº 62.455, de 22 de Março de 1968, conforme autorizado pela Lei n° 5.379, de 15 de dezembro de 1967. 
A criação do MOBRAL, durante o regime militar, é considerada como uma resposta ao método de alfabetização de adultos preconizado pelo educador Paulo Freire que se tornara persona non grata ao regime. O marco de seu projeto teve início em Angicos, no Rio Grande do Norte, então denominado "De pé no chão também se aprende a ler". De todo modo, o método de alfabetização usado pelo MOBRAL era fortemente influenciado pelo Método Paulo Freire utilizando-se por exemplo do conceito de "palavra geradora". A diferença é que o Método Paulo Freire utilizava palavras tiradas do cotidiano dos alunos, enquanto, no MOBRAL, as palavras eram definidas por tecnoburocratas.
Vinculado ao Ministério da Educação e Cultura era o órgão executor do Plano de Alfabetização Funcional e Educação Continuada de Adolescentes e Adultos, cujo principal objetivo era o de promover a alfabetização funcional e educação continuada para os analfabetosde 15 anos ou mais, por meio de cursos especiais, com duração prevista de nove meses.
Embora formalmente criado em 1968, o MOBRAL só foi efetivamente implementado a partir de 1971.
Durante mais de uma década, jovens e adultos frequentaram as aulas do MOBRAL. A recessão econômica iniciada nos anos 80 inviabilizou a continuidade do programa. A partir de 1985, com o fim do regime militar, a Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) passou a se chamar Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos - EDUCAR. Em 1990, a Fundação EDUCAR também foi extinta.

BATAGUASSU: 36 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

Desfile cultural em homenagem aos 36 anos de Bataguassu, ocorrido em 1990. Na fotografia, só reconheço Maikel Botelho e o filho mais velho da Srª Neuraci Herestek (trajados com roupas folclóricas de portugueses) Tenho impressão que, ao fundo, de camiseta branca e calça preta, segurando uma bola, é Alexandre Wisney de Mattos, filho da Profª Eva.

Nota-se a área urbana ainda familiarizada com o verde das árvores, muitas delas frutíferas, graças aos quintais e quarteirões amplos, numa época em que a Cia São Paulo Mato Grosso vendia os lotes a preços abaixo do mercado para atrair moradores.
A imagem revela ainda a presença das antigas casas de madeira, as quais estão ficando cada vez mais escassas em Bataguassu, cedendo espaço para as modernas construções em alvenaria de tijolos e concreto. Vemos, na esquina, a farmácia do "Velho Kavanami", já falecido nesta época, e a Escola Estadual Manoel da Costa Lima em seu formato original.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

ZDENECK PRAKUCH: SUA ESTADIA NOS PRIMÓRDIOS DE BATAGUASSU


Como sabemos, Zdeneck Prakuch veio refugiado da antiga Tchecoslováquia e logo em seguida acabou se encontrando com o famoso conterrâneo Jan Antonin Bata. Por sua ilustração ele findou dando vazão à sua veia empresarial, tornando-se um grande executivo na área de calçados, em Franca/SP. Também escreveu livros e assinava artigos em jornais paulistas. Era um intelectual também. Nas suas estadias em Bataguassu, foi um grande colaborador do fundador desse município, inclusive agilizou e acompanhou a construção da casa onde Bata morou. São de seu acervo as fotografias abaixo. Na entrevista, abaixo, feita pela professora Georgia Carolina Capistrano da Costa, o leitor pode conhecer um pouco mais sobre esse pioneiro que contribuiu com os primórdios da nossa cidade.



Em  2013 o consultor calçadista Zdenek Pracuch. morreu aos 85 anos, de câncer no intestino. Essa é uma de suas últimas fotografias, flagrada por Marcos Limont. Minha irmã, Regina Freire, ainda conseguiu manter contato com ele, alguns anos antes e obteve informações preciosas sobre o primeiro cinema de Bataguassu. É uma bela história que em breve será contada neste blog.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

JAN ANTONIN BATA ATRAVESSANDO O RIO PARANÁ

Numa balsa precária, Jan Antonin Bata atravessa o Rio Paraná no final da década de 40. Essa travessia, com o sabemos, era muito perigosa e há registros de vários acidentes ocasionados por excesso de peso, pela má distribuição dos carros sobre a balsa, ou pela corda que se partia. Nesse caso a balsa descia, precisando ser rebocada por pequenos embarcações a vapor que ficavam às margens de ambos os rios. Segundo antigos moradores, o leito do rio Paraná - nesse ponto - possui veículos e equipamentos pesados que desceram e ali ficaram para sempre, num cemitério submerso.

RETALHOS DE RELOGIOSIDADES EM TEMPOS PASSADOS

Antiga capelinha no Porto XV de Novembro antigo - Bataguassu/MS.
Em destaque: padre Leão Ledri, Helena Vitiritti, Airton Pinheiro Ferreira e Vilma Martins e Souza (conduzindo o andor) 
Na balsa, católicos  atravessam o rio Paraná durante a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes
A procissão já em solo epitaciano.
Certamente pela religiosidade católica de Jan Antonin Bata, Bataguassu nasceu católica. Primeiro veio o frei Luís com a sua capelinha de madeira em estilo eslovaco,  e muito tempo depois começaram a se instalar as denominações evangélicas. Era costume de Jan Antonin Bata trazer uma autoridade religiosa para conhecer Bataguassu, inclusive de outros países. Ele era muito entusiasmado com o Brasil. Bom anfitrião, ele sobrevoava a área "urbana", muito acanhada, mas já começando a florescer casas. Mostrava Bataguassu em vista aérea. Depois ia por terra. Também gostava de mostrar as roças, que inclusive eram lotes vendidos pela Cia. de Viação São Paulo Mato Grosso. Naquela época, elas ficavam próximas ao Rio Pardo.


Acervo: Diva Câmara Martins
Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes atravessando o Rio Pardo

A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, além de seu aspecto religioso simboliza amizade entre duas cidades. Esse elo fortalece a união entre os moradores de Bataguassu e Presidente Epitácio. Ambos sempre precisaram um do outro de alguma forma. Logo no início a dependência estava mais na alçada da educação sistematizada, depois veio a dependência comercial. Epitácio era fornecedor de produtos típicos aos armazéns, além de ferramentas e assistência médica.


Observe, ao fundo, o Rio Pardo
Foto aérea, destacando a capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes no Porto XV de Novembro - Bataguassuu/MS.
Cartaz antigo de uma das versões da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes
A Marinha sempre apoiou efetivamente o evento em termos de segurança, sem que seus oficiais deixassem de externar a sua fé, como se vê na fotografia.
Cartaz antigo com a programação da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes.
Procissão de São João Batista  na Avenida Campo Grande, exatamente entre a nossa casa e a de Jan Antonin Bata - Bataguassu - MS.

Igreja Matriz de São João Batista - Bataguassu-MS.
Padre Leão Ledri


 

Para os católicos, a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes sempre foi um acontecimento aguardado com ansiedade. Muitos deixavam as áreas rurais ao amanhecer, de cavalo, carroça ou carro. Era um evento demorado, obrigando-os a levar comida preparada na noite anterior.  Nas marmitas eles traziam frango, farinha, feijão, carne assada, rapadura, pão com mortadela, além de frutas e água. Cada qual se servia segundo as suas posses. Cansei de ver famílias comendo em plena balsa, sem se importar com quem estivesse por perto. E não era algo a se envergonhar, pois muitos faziam isso. Mas o que esses cidadãos pareciam trazer de sobra era a fé, pois ocorriam momentos de muita contrição e piedade.
O Grupo de Jovens de Bataguassu sempre foi muito ativo. Na minha época até peças de teatro fazíamos, apresentando-a no Salão Paroquial, onde havia um palco.

80 anos do Pe. Leão Ledri
Interior da igreja Adventista do Sétimo Dia em Bataguassu, onde assisti a muitos "filminhos" da história de Jesus, passados pelo Pastor Joaquim Martins da Conceição Filho. Mesmo católico eu "tinha um pé" na adventista, pois éramos vizinhos e vivíamos juntos para lá e cá.   Na realidade, a Igreja Evangélica Assembléia de Deus foi a primeira a se instalar em Bataguassu muito tempo depois da católica. E aos poucos começaram a chegar outras denominações evangélicas, como a Batista e Igreja Pentecostal Deus é Amor.
Pe. Leão Ledri


OBS. Peço a quem sabe a autoria de algumas fotografias aqui postadas, e que se encontram sem o devido crédito, que me informe o autor ou dono do acervo para que eu possa organizá-las.